Geleia de Mocotó...

Meus olhos brilharam ao enxergarem a salvação... Era Início dos anos oitenta. Inventei de ser goleiro, no futsal da sexta série. Estava hipnotizado em frente à TV, preto e branco, de Dona Jura, nossa vizinha no Beco Estreito:

- Mocotó inbasa, ajuda a vencer! - Dizia a voz masculina no comercial. 
- O Júnior fica com a geleia... - Enfeitiçava a voz da mãe...
- E a mãe, fica com o copo! - Era a peste do Júnior. Do corpo, só se via o dedo tocando um copo de vidro que fazia "plim", irrandiando o maior de todos os brilhos.

Mesmo com o orçamento estourado, não foi difícil convencer mamãe a liberar a caderneta pra eu fazer um fiado lá no mercado de Jairo. Depois que eu ficasse forte, ela ganharia um copo novinho em folha.

A camisa azul que Ricardo de Aragão me emprestou era tão fofinha que eu nem precisava de geleia... Mas, não podia abrir mão do manjar que me transformaria no maior goleiro da face da terra.

Com gana, abri o potinho de geleia e acunhei a primeira colherada na boca...

- Eca! Essa merda tem gosto de iodeto de potássio!

Não podia desistir. Tapei o nariz, e com a ajuda duns goles d'água, engoli a gororoba. Todinha. Fiquei virado no cão com Júnior e sua mãe...Se ao menos mostrassem a cara na TV, eu os reconheceria na rua... Nem isso...

Cinco minutos de jogo, e eu animado! O tiro livre que sairia dos pés de Marcone de Zé da Quixaba, não me afligia! Eu estava imunizado...Forte...Comi Geleia de Mocotó Inbasa.

Tummm!

Não sei se agarrei a bola, ou se ela grudou em mim. Tomei um soco de canhão na caixa dos peitos, aparentado com o coice da égua de Seu Banga. Só lembro do chute e da frase chula de Guêga, quando acordei:

- Caiu de cu trancado!

Entrei com bola e tudo no gol; Saí sem ar, da longa carreira de cinco minutos como arqueiro. Quebrei o copo de mamãe e nunca encontrei a mulesta do Júnior; Nem a mãe dele...

Fie do cão!!!

#somosforró